sábado, 24 de março de 2012

Profeta do amor

Criolo, em Belo Horizonte, desfiou o 'Nó na Orelha' e fechou com faixas do 'Ainda Há Tempo' 

Por FELIPE PEDROSA
foto: web
A imensa fila em frente ao Music Hall (av. do Contorno, 3.239, Santa Efigênia) anunciava o espírito que rondaria o público no segundo show de lançamento do disco “Nó na Orelha”, do Criolo, em Belo Horizonte. E pensar que um ano antes, no festival Transborda – realizado na acalentadora Praça do Papa, no Mangabeiras – poucos sabiam entoar os versos do profeta do amor.

Criolo surgiu sereno, com um cap de marinho a tiracolo. Sim, ele foi o capitão da sexta-feira passada, dia 23, e conduziu muito bem a viagem sonora da noite passada. Quem não entrou na casa antes do músico desfiar a primeira faixa do repertório, teve a surpresa de ouvir “Sucrilhos”, letra e melodia saborosa não só no nome. A ordem das canções, dali em diante, é o que menos importava. Os homens de espíritos inquietos flutuavam com as rimas fáceis e pesadas do paulista.

“Nó na Orelha” foi tocado na integra. “Freguês da Meia Noite”, entretanto, surpreendeu o rapper que há 20 anos está na labuta do rap nacional. O público não cantou, não recitou, não falou, ele rugiu os versos da canção. “Graujauex”, “Não Existe Amor em SP” e “Bogotá”, que fechou o show antes do bis, foram outros destaques da noite. Apesar da popularidade dessas canções, elas não abafaram o viés contestador e a importância de músicas pregressas de Criolo.

O bis, como é de costume, aconteceu. Três faixas do álbum “Ainda Há Tempo”, de 2006, marcaram a despedida do músico, que demonstrou ser um ótimo vocalista, transitando entre graves e agudos e se comprometendo com a qualidade sonora da apresentação. Sem grandes estripulias no palco, Criolo se manteve atento ao que a plateia dizia, agradeceu várias vezes o carinho e declarou: “Vocês são uma geração que faz a diferença”.

Público. Quem acompanha a cena do rap nacional desde a guerrilha de caras como Thaíde e Racionais MC’s notou uma diferença enorme na massa que se aglutinou para prestigiar o show “Nó Na Orelha”, do Criolo. Favela, classe média e burguesia mineira dividiram o mesmo espaço, onde não havia o excludente camarote. Todos ali queriam apenas mergulhar na música de um cara que veio para dar uma nova roupagem a música da periferia.

Criolo, por meio dessa sua experiência sonora, erigiu a própria carreira, que estava prestes a minguar (o cara estava decidido em parar de cantar quando entrou em estúdio para registrar o premiado “Nó Na Orelha”) e aplicou as brasilidades e latinidades em muitas pessoas, que descobriram que a música nacional é bastante palatável.

*Matéria publicada no O Tempo Online no dia 24/03/2012

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