segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Rimas inéditas e sem frescuras

MV Bill se inseriu no mundo televisivo, mas não perdeu a 
premissa de suas rimas ásperas e criticas

Felipe Pedrosa
As incursões na Globo, como em "Malhação" e no "Dança dos Famosos", do "Domingão do Faustão", e as empreitadas como documentarista e escritor não abalaram as estruturas musicais do rapper MV Bill, que lançou, entre o fim de 2010 e o início deste ano, o álbum "Causa e Efeito", pelo selo Chapa Preta. Com direção artística do próprio músico, o disco transita por temas recorrentes em seus outros trabalhos, como a exclusão social, a política brasileira, a situação dos moradores das periferias e a indústria cultural.


Neste, que é o quarto disco de estúdio de MV Bill, ele entrega um "cheque em branco" para sua irmã, Kmila CDD, que, além de participar de algumas faixas, se apresenta na canção que leva seu próprio nome. A voz sem firulas da cantora ainda se sobressai na música "Estilo Vagabundo 2", que é uma continuação da letra apresentada no álbum "Falcão, o Bagulho É Doido", de 2006.

Homônima ao disco, "Causa e Efeito" traduz a insatisfação do músico com a corrupção da política nacional. Isso fica claro no refrão: "Rouba muito/ magnata/ não vai para cadeia e usa terno e gravata".

Não diferente de seus outros trabalhos, o carioca, nascido e criado na Cidade de Deus, dedicou rimas relatando a história de um personagem (fictício ou não). Vale lembrar, "Soldado do Morro", de 2000, "Soldado Morto", em 2002, e, agora, "Mulheres", sobre uma mãe que perde a filha para o universo das drogas.

No total de 12 faixas, apenas a canção "Cidadão Refém", que conta com a participação do cantor Chorão, já havia sido gravada por Bill.


ALGUMAS CURIOSIDADES
Destaques: "Causa e Efeito"/ "O Bonde não Para"/ "Mulheres"/ "Estilo Vagabundo 2"/ "Amor Bandido"/ "Liberte-se"/ "Cidadão Refém"/ "Transformação"/ "Corrente"/ "Sou Eu".
Repescagem: No quadro "Dança dos Famosos", do "Domingão do Faustão", na Globo, MV Bill foi para repescagem junto dos artistas: Roberta Miranda, Renata Kuerten e Guilherme Winter.

CAUSA E EFEITO
A canção homônima ao disco, até então, foi a única digna de receber um videoclipe. Disponível no site You Tube, o vídeo utiliza recursos de animação e de quadrinhos para alfinetar políticos brasileiros e alguns filmes nacionais, como "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite".


Confira o clipe abaixo:



*Matéria publicada no jornal Super Notícia, no dia 15 de junho de 2011.

sábado, 24 de setembro de 2011

O ápice da tristeza

Embebedando-se do sentimento alheio

Felipe Pedrosa

Obras de Moreno trazem traços de HQ's
A tristeza está presente no cotidiano dos seres humanos. E, como não poderia ser diferente, é tema recorrente de músicas, artes plásticas e filmes. Na internet – principal expositora de trabalhos independentes – também é possível encontrar o sentimento calcando vários projetos, como o “O que É Tristeza para Você”.

Composto por mini-documentários, o projeto é uma raiz da animação “Thomás Tristonho”, idealizada pelo Coletivo Quatro e Vitrine Filmes. Nos vídeos – disponíveis no site http://oqueetristezapravoce.com.br/ – é possível intuir as histórias de três artistas e suas percepções sobre o sentimento doloroso e, ao mesmo tempo, engrandecedor.

Hélio Leites e Márcio Moreno limitam-se a narrar casos reais e que possuem como mote a relação empregatícia. Leites, em determinada hora, afirma que o pior desemprego é fazer o que não se gosta. Rita Pires usa da sutileza para sobrepor seus “achados” sobre o assunto.

Mais que a tristeza, os mini-documentários trazem uma trilha sonora envolvente e apresenta o trabalho de cada um dos artistas.

"Thomás Tristonho". O filme, com roteiro e direção de André Saito e César Nery, conta a história de um garoto que acredita ter o poder de entristecer tudo o que toca.


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Queijo e rock'n'roll

Da redação

Sexta-feira chegou e você tá no osso? Hoje, a partir das 22h, no Mercado das Borboletas (av. Olegário Maciel, 742, 3º piso, Centro), a TV Queijo Elétrico vai dar uma festa só para pessoas serelepes.

A ideia do coletivo é juntar uma grana para comprar uma câmera, pois eles foram roubados – acredite!

A festa "Salve o Queijo", com entrada custando R$ 15 pratas, será regada a pitadas de Fusile, Dead Lover's, Pequena Morte, Junkie Dogs, e muito mais.

Chega lá!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

“É um vício”, diz Maria Rita

Linda. Maria Rita é impressionante no palco
Felipe Pedrosa
Maria Rita soube engrandecer o talento herdado da mãe – a fantástica Elis Regina. 

Ao discorrer dos últimos oito anos, ela lançou três álbuns arquitetados em composições de gênios pregressos, como Milton Nascimento e Rita Lee, e dos seus contemporâneos, destacando Edu Krieger e Marcelo Camelo, integrante do Los Hermanos – banda de férias por tempo indeterminado. 

O hermano, aliás, reinou em dois dos três títulos da paulista de voz poderosa e sensível. Em 2003, “Maria Rita” trouxe à luz as músicas “Cara Valente” e “Santa Chuva”, ambas inéditas, e registrou o sucesso “Veja Bem Meu Bem”, que integra o disco “Bloco do Eu Sozinho” (2001). No “Segundo”, de 2005, a intérprete gravou a faixa “Casa Pré-fabricada”, também do “Bloco”. 

Prestes a lançar seu quarto disco, intitulado “Elo”, Maria Rita assume ser fã do compositor carioca e revela que incluirá a canção “A Outra”, do disco “Ventura” (2003), no seu novo rebento. “Cantarolo essa música pelos cantos da minha casa há anos. Entrou no show pelo amor que tenho ao Camelo: minha alma pede as composições dele. É vício”, disse a artista, no material enviado a imprensa. 


O disco, que será lançado pela Warner, chega às lojas de todo o país no dia 22 de setembro.


Discografia da cantora:
"Maria Rita", 2003;
"Segundo", 2005;
"Samba Meu", 2007.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Falta potência sonora

Nada de especial, mas é bom ouvir suas novas composições

Prole. Última faixa do disco é cantada pelo filho do músico

Felipe Pedrosa
Letrista ímpar, o pernambucano José Paes de Lira vem à baila com seu primeiro disco solo, “Lira”. Após fincar uma pedra em cima dos treze anos com o Cordel do Fogo Encantado, transitar pelo cinema, teatro e literatura, o compositor veste-se da musicalidade pop e abandona os apetrechos regionais. 

Disponibilizado em seu site oficial no dia 11 de setembro, “Lira” traz 12 canções calcadas na arquitetura poética pertinente à Lirinha. Considerando que ele nunca prendeu-se a um estilo cronístico ou a metrificação de suas letras, o trabalho solo não é tão inovador como o esperado.

Transparecendo uma espécie de cordel psicodélico, o disco – que será lançado oficialmente no dia 1º de outubro – é palatável e suave. Mas peca pela falta de potência sonora. Em todas as músicas há uma valorização de guitarras, teclados e sintetizadores. É possível, aliás, esperar a avalanche de tambores logo após os primeiros versos de cada uma das faixas.


”Lira”, aparentemente, não veio para saciar a fome dos inúmeros fãs de Cordel do Fogo Encantado. O disco está mais para uma realização intimista e reafirmação da lírica visionária do músico.

Coletivo. Lirinha está sempre bem acompanhado – diga-se, principalmente, pela companhia da atriz Leandra Leal. Em “Lira”, não seria diferente. Além da produção, Pupillo (Nação Zumbi) participa praticamente de todas as faixas. O álbum ainda conta com a criatividade e talento de Bactéria (Mundo Livre s/a), Neilton (Devotos), Ângela Ro Ro, Otto, Luisa Maita, Fernando Catatau (Cidadão Instigado), Bozó, dentre outros.

Contudo, a participação mais valorosa é do músico Lula Côrtes, que faleceu em março passado. A sua última participação artística, tocando tricórdio, foi no álbum solo de Lirinha, na música “Adebayor”.

Vale ouvir. “Ela vai dançar”; “Sidarta”; e “Memória”.
Disco em: http://www.josepaesdelira.net/



domingo, 18 de setembro de 2011

Ele ainda é potente

Erasmo Carlos mostrou seu “Sexo” nanoite do dia 17 de setembro em Belo Horizonte

Trilogia. Erasmo lançou "Rock'n'Roll", "Sexo", e
promete o derradeiro álbum da série.
Felipe Pedrosa

Ele não rebola. Não pula. Não dança. E, é claro, não faz cenas sensuais/sexuais com o pedestal. Ainda assim, ele é um homem potente.

Comemorando 50 anos de carreira – “Carreira não. Hoje essa expressão tem outro significado. 50 anos de estrada”, corrigiu o Tremendão –, Erasmo Carlos não canta, ele ruge. Comesse peso vocal, ele costurou canções pregressas e a sua nova prole no show realizado dia 17 de setembro em Belo Horizonte. Apesar do público não comparecer como o esperado no Chevrolet Hall, o artista demonstrou alegria em fincar mais um show na terra das alterosas.

Logo após uma breve introdução, que tinha como essência o sexo – título do seu mais recente trabalho e da turnê –, Erasmo entrou no palco para emplacar a canção “Kamasutra”. Com olhos atônitos, boa parte do público não conhecia a letra, mas sabia que aquele rock’n’roll era mesmo do Tremendão. Dali em diante, ele foi tecendo um novelo de novas canções, como “Sexo é Vida", "Roupa Suja" e "Jogo Sujo”, e de outras imortalizadas ao longo dos anos – vale destacar “Mesmo que Seja Eu” e "Mulher".

Enquanto relembrava hits e mandava beijinhos para as fãs, Erasmo declarou: “seos Stones vieram aqui e não tocarem ‘Satisfaction’, eles não vieram. Se o Roberto vier e não fazer ‘Detalhes’ não valeu. O Los Hermanos vem e não toca ‘Ana Júlia’, fica todo mundo triste. Como eu não quero ninguém triste...”, antes de começar a romântica “Gatinha Manhosa”, que precedeu “É Proibido Fumar” e “É preciso Saber Viver”.

Versátil. Considerado um rock star tupiniquim, Erasmo não se limitou nesses 50 anos a dilacerar guitarras. Ao lado de Roberto Carlos – seu parceiro da jovem guarda intitulado o "Rei da Juventude" pelo mestre Chacrinha, em 1966 –, eles lançaram canções românticas – aquelas, segundo o próprio Tremendão, que sempre tocavam em motéis –, canções políticas – tratando exclusivamente de ecologia e natureza –, e clássicos do ye, ye, ye.

Não faltando nenhuma dessas veias musicais, ele fez um medley de canções populares, como “Sentado à beira do Caminho”, “Eu te amo, te amo, te amo”, “Detalhes”, “Café da Manhã”, dentre outras, ao som do piano.

Já em clima de adeus, ou "até sempre", o músico fez um teatrinho até voltar para fazer "Cover" e "Festa de Arromba", que pontuou o fim da sua apresentação.


Fatal. No próximo sábado, dia 24, Roberto Carlos apresenta-se no Mineirinho. Tal fato, logicamente, afetou o show do Erasmo. Embora Roberto seja o Rei, Erasmo é rock'n'roll e merecia um público muito maior na sua passagem pela capital mineira. Os organizadores, entretanto, deveriam ter optado por um teatro, onde o show seria mais intimista e, ao mesmo tempo, confortante para o Tremendão.

Confira o clipe da música "Kamasutra":



quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Pai Punk


Intimidade. Mike Burkett, do NOFX, com sua filha de quatro anos.

Felipe Pedrosa
O grito de rebeldia contra o sistema e os próprios pais ecoou da garganta de vários punks da Califórnia nas décadas de 70 e 80. A anarquia predominou durante boa parte de suas vidas. Drogas, sexo, violência e agressividade musical deram à tônica das suas carreiras como músicos. Entretanto, o tempo passou e a prole de Jim Lindberg (Pennywise), Flea (Red Hot Chili Peppers), Ron Reyes (Black Flag), Tony Adolescent (The Adolescents), Duane Peters (U.S. Bombs), entre outros, modificou para sempre as suas vidas.

Calcado nesse enredo, o documentário “The Other F Word”(2010) – exibido no dia 7 de setembro no Indie Festival, em Belo Horizonte  – traz à luz os punks que viraram papais. Agora, eles precisam conciliar turnês com festinhas de colégio, evitar palavrões, trocar fraldas e, principalmente, render-se ao sistema que tanto lutaram contra.

Além de mostrar a imponência de um filho na vida do mais rebelde dos homens, o longa-metragem – engraçado em poucos momentos – desvenda a intimidade dos artistas que foram ídolos de uma, duas, ou mais gerações. A  exemplo, o vocalista no NOFX, Mike Burkett, precisa explicar para sua filha de quatro anos qual o significado das suas tatuagens; uma das filhas de Flea é chamada as presas porque um homem estranho está procurando-a no colégio (era ele); e Lindberg abandona a banda para se dedicar as suas três descendentes. Dentre todas as histórias, o drama de Peters pela morte do seu filho primogênito é um relevo na produção, que ainda traz a tristeza de Tony pelo nascimento de uma filha já sem vida.

Embora não seja essencial a filmografia musical, “The Other F Word” – capitaneado por Andrea Blaugrund – é interessante e peca em poucos aspectos. Além da estética muito parecida com um programa da MTV estadunidense, a história de alguns artistas pesam mais que dos outros. É o caso de Lindberg que está quase o tempo todo em cena e Mark Hoppus, do Blink 182, que aparece ora ou outra. Ainda vale destacar: alguns dos entrevistados, considerados punks, na verdade são expoentes de um estilo pós punk rock.

Para fechar, não me lembro qual deles disse a frase de impacto: “Antes queríamos morrer jovens. Agora, não queremos experimentar a morte.

Trailer: