quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Incógnita

"Nada dura nesse mundo, nem mesmo os nossos problemas"

"A Erva do Rato" foi exibido no festival de cinema de Veneza em 2008

Felipe Pedrosa
"A Erva do Rato" (2008) não é para todos os telespectadores. É óbvio que o longa-metragem do diretor Júlio Bressane passa longe da indústria do entretenimento, mas ele não se limita em ser apenas um filme autoral. 

Baseado nos contos "Um Esqueleto" e "A Causa Secreta" do escritor Machado de Assis (1839-1908), "A Erva do Rato" é erigido na relação entre duas pessoas (Alessandra Negrini e Selton Mello)  protagonistas sem nomes. E, como declarado por Alessandra Negrini à Folha de São Paulo, esse casal mal se olha, se toca ou se fala. O silêncio, aliás, é um dos recursos enigmáticos do longa.

Júlio Bressane traz à luz o avesso, o outro lado. Essa proposta, inclusive, revela o potencial dramático da protagonista. Alessandra Negrini, apesar de já ter trabalhado com Bressane em 2007, é sempre lembrada por suas personagens na teledramaturgia, formato presente em sua vida desde 1990. Ela, entretanto, é capaz de se dissolver e, ao mesmo tempo, se embrutecer diante das câmeras. 

Selton Mello dispensa apresentações. Ele, afinal, cresceu nas produções Globais, mas já havia provado que não está limitado a roteiros pré-concebidos e a dramas que levam ao mesmo desfecho.

Em "A Erva do Rato", é preciso ressaltar ainda a fotografia proporcionada por Walter Carvalho, que se transpõe para além da estética e complementa a própria trama como, por exemplo, na composição e tons expressos nas fotos que o protagonista faz da própria companheira.

A incógnita de "A Erva do Rato" nunca se dissipa. Ela apenas nos faz retornar ao seu primeiro diálogo: "nada dura nesse mundo, nem mesmo os nossos problemas. Você me disse o seu nome, eu lhe disse o meu é o que basta. Vamos viver juntos, logo saberemos tudo sobre nós dois, sobre nós mesmos". 

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