terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Santa semana


Família. Retrato para sempre na memória

Por Felipe Pedrosa
A estrada até Arcos, região Oeste de Minas Gerais, nunca me encantou. Enquanto o carro deslizava pela BR 262, preferi misturar a realidade estática com as aventuras de alguns cochilos. Aproveitei, assim, melhor a situação de passageiro.

Embora fosse início do feriado da Semana Santa, a estrada estava tranquila e em menos de duas horas minha irmã indicava onde é a casa nova dos meus avós maternos. “É nesse muro branco aí em frente”, disse a caçula da minha casa. Antes de tocar a campainha, imaginei que meu Vô Breu atenderia o portão vestido com seu guarda pó azul. Acertei! Afinal, ele deve ter uns 10 modelos iguais, todos no mesmo tom claro.

Com um sorriso no rosto, os dois vieram atender o portão. Minha avó, que estava ajeitando o almoço e o suco de caju para receber seus hóspedes, disse: “Tirei a cebola do feijão, meu filho”, contou, só para me agradar. Nos próximos dias, pratos típicos de Minas, como costelinha, angu e ovos caipiras, deram o gostinho de cidade do interior no nosso almoço.

A noite foi caindo e as novelas globais foram as nossas únicas companhias. “Vamos jogar Dama”, meu avô me chamou, sabendo que ia ganhar mais uma vez. As peças vão sumindo do tabuleiro e eu já sinto a calmaria que fez esses dois mineiros fugirem da Babilônia da região metropolitana de Belo Horizonte e fincarem o pé em Arcos, onde residem há dois anos.

Observando
Sentados em frente a nova casa, olhando para a praça recém construída, o Sr. Breu estende a mão e cumprimenta todos aqueles que passam. Aproveito o momento e pergunto para Dª Lourdes quantas plantas ela tem. “Deve ter umas 50, meu filho”, conta, citando o nome de algumas e lembrando que meu avô tem que terminar de consertar o galinheiro.

Não muito distante do Centro da cidade, vou e volto a pé. Observo o trem que passa com minério de ferro, as casas tão lindas e as pessoas que não esquecem de dar "dia", "tarde".  Nesse vai e vem, fiquei curioso em conhecer o cinema local, descobri que é realizada apenas uma sessão por dia e que a praça central é o reduto dos adolescentes, que praticam uma espécie de footing do século XXI.

“Bença vô, bença vó”, peço aos dois velhinhos ao mesmo tempo em que entrego um abraço de despedida.   Assim que vamos tomando distância, sinto um aperto no peito e chego a pensar: “até quando vou poder ver nos olhos deles a felicidade da vida nova e aproveitar a santa semana que eles entregam aos hóspedes tão queridos e aguardados?”.

Arcos. Reduto da tranquilidade


*Texto escrito em abril de 2011

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