segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Amy: a Leoa vive


Lioness: Hidden Treasures não deixa dúvida:
Amy Winehouse é a melhor interprete de seu tempo 


Renato Vieira
Discos póstumos costumam ser, a princípio, verdadeiros mexidões com ovos podres. Caso recente foi o álbum Michael, de Michael Jackson, lançado em 2010, um ano depois da morte do cantor. Há algumas exceções onde se encontra bom material, como Milk and Honey, com gravações feitas por John Lennon pouco antes de sua morte. Podem ser tanto uma decepção quanto uma grata surpresa. Lioness: Hidden Treasures se enquadra na segunda opção. O álbum comprova que Amy Winehouse é, até agora, a cantora do século XXI. 

Demos serviram de base para o disco
O disco começa com Our Day Will Come, sucesso dos anos 1960, gravada como demo em maio de 2002, data das gravações mais antigas presentes no CD. De todas as faixas do álbum, é a que mais se assemelha ao perfil de Back to Black (2007), o disco que catapultou a inglesa ao mainstream. A voz de Amy já mostra a que veio, com a total influência do R&B. Da mesma época é a fraca versão de The Girl From Ipanema (Garota de Ipanema). Também de maio de 2002, foi registrada originalmente no esquema voz e violão. A voz de Amy se mostra indecisa entre Sarah Vaughan e Astrud Gilberto. O arranjo new bossa também soa datado, o que faz desta a pior faixa do disco. Se Half Time e Best Friends, Right? (agosto de 2002 e fevereiro de 2003, respectivamente) poderiam perfeitamente estar em Frank (2003), primeiro álbum da cantora, outras faixas mostram a procura da sonoridade para Back to Black. Tears Dry (Tears Dry on Their Own, em Back to Black) e Wake Up Alone aparecem aqui em versões gravadas na pré-produção daquele disco. A sonoridade permite imaginá-las em um disco de Diana Ross na Motown nos anos 1970. São bons registros, mas o produtor Mark Ronson sabia que Amy precisava de arranjos mais pops para que estourasse mundialmente, e foi exatamente isso que aconteceu. 

Painel de influências 
De Carole King ao flerte com o rap, passando por clássico do jazz. Na recriação de Will Still Love Me Tomorrow (setembro de 2004), clássico de King, Amy coloca em uma balada originalmente contida e tristonha a força de sua interpretação. Já Like Smoke (maio de 2008), com participação do rapper Nas, parece ser mais uma faixa de um disco deste com Amy tendo uma participação quase decorativa. Na já conhecida versão de Body And Soul (março de 2011), sua última gravação, em dueto com Tony Bennett, vê-se uma cantora requintada, que pouco mostrou sua faceta cool nos próprios discos. Mas Between The Cheats (maio de 2008) e A Song For You (2009), indicam que ela poderia seguir esse caminho em seu terceiro disco. Nunca saberemos se isso aconteceria, mas Lioness é digno do legado de Amy Winehouse.

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