terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Seu beijo

"Isso" (2001), Titãs.

Por FELIPE PEDROSA
Evito falar de mim, dos meus desejos, das minhas saudades. Tenho medo de ser clichê, piegas e, quem sabe, brega. Mas, não sei porque, o teu último beijo ainda me consome. Fiz poemas, sonetos, textos caprichosos pensando em você e, tenho certeza, nenhum foi percorrido por seus olhos, ora negros, ora castanhos. E, agora, eu me pergunto: e daí? Você, provavelmente, pouco se importa com esse bolorento passado e também com esse presente nostálgico.

O fato é: o seu beijo ainda me faz salivar. Uma, duas, três, dez, quatorze... perdi a conta de quantas bocas toquei depois da sua. Nenhuma delas, entretanto, dançou no meu compasso. O teu gosto é indecifrável, sensível e arrebatador. Os homens, que foram poucos depois de mim – tenho certeza –, sofreram ao deixar você ir. Assim como doeu quando você pegou a estrada, deixando para traz um espólio de vagas lembranças.

Na última vez, nós comemos, bebemos e você pediu para eu não tentar. A tua respiração, porém, já estava no meu ritmo, a sua pele estava em contato com a minha e os seus lábios, que lábios, encostaram-se aos meus.  Droga, não consigo fugir do óbvio. Da mesma maneira que não soube evitá-lo quando você ainda era minha. Flores, bombons e declarações aos montes ou a falta disso tudo?!

Você me chamou para ir. Eu, ainda estagiário, fiz questão de pagar a conta. Não pensei em levá-la para um motel, lugar ermo ou rua deserta. Embora estivesse morrendo de vontade de te ver nua, sentir sua boca deslizando por meu corpo e, mais uma vez, selar o que ainda sinto por você.

Acelerei pela BR 381 rumo a sua nova e já antiga casa. Esse foi o seu pedido. Parei no meio do caminho. Precisava de mais um beijo. Esse foi rápido e sem emoção. Ele, logo, foi interrompido por um: “Tenho que ir embora. Não conte para ninguém o que aconteceu, ok?”.

Adeus.  

Espaço para vídeos experimentais em Belo Horizonte

DA REDAÇÃO
A partir da próxima quinta-feira, dia 1º de março, Belo Horizonte terá mais um espaço para ancorar videoinstalações. O Café Amostra, porém, receberá apenas propostas que venham na esteira de produções inusitadas, em locais não convencionais e de caráter experimental. Para inaugurar o espaço, o grupo 4e25 leva ao videowall um trabalho arquitetado também na literatura, como a intervenção "Edições Serpentinas", que tem como base livros encadernados com papelão e pintados à mão.

SERVIÇO
O quê. Abertura do Café Amostra
Quando. Dia 1º de março, às 19h 
Onde. Próximo ao Café Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, centro)
Informações. (31) 3214-5350

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Nação Zumbi ao vivo

Registro de 2009 ganha forma física no próximo mês

Por Felipe Pedrosa
Para alimentar o espírito dos "mangue-boys" – principalmente em uma sexta-feira de Carnaval, a Deck Disc acaba de disponibilizar no You Tube um trecho da apresentação ao vivo do Nação Zumbi, que vai compôr o CD/DVD/LP a ser lançado em março deste ano.  

O show gravado em Recife há três anos atrás pontuou o fim da turnê "Fome de Tudo"  último registro inédito da trupe pernambucana. No vídeo inédito, a Nação divide o palco com os caras do Paralamas do Sucesso.

O registro ainda teve a participação valorosa e acalentadora de Fred 04, Arnaldo Antunes, Siba e a Fuloresta.

Aperte o play:


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Agraciado pelo talento de Rooney Mara

Personagem Neopunk é a principal representante do longa-metragem na premiação do Oscar 2012

Rooney Mara protagoniza "Millennium (...)" ao lado de Daniel Craig

Felipe Pedrosa
Discorrer sobre a perspicácia de David Fincher à frente de um thriller é ser redundante. O diretor norte americano, afinal, já provou por “Se7en” (1995), “Fight Club” (1999), entre outros, o motivo para qual nasceu – aos 8 anos, David brincava de fazer filmes com a câmera portátil dos próprios pais.

Em “Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres” – filme que estreou no circuito comercial de Belo Horizonte há cerca de três semanas –, David foi agraciado com a interpretação da atriz Rooney Mara. Ela, no caso, interpreta a protagonista Lisbeth Salander, uma hacker de poucas palavras, muitas atitudes e diversas expressões.

Lisbeth, a propósito, é capaz de arrancar suspiros do espectador com o seu olhar – ora morto, ora com sobrevida. Não por menos, a nova-iorquina concorre ao prêmio de Melhor Atriz no Oscar 2012.

Filme. Baseado no livro homônimo do escritor Stieg Larsson, “Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres” é apenas o primeiro longa-metragem de uma trilogia, que, aliás, pode parecer escassa logo após a subida dos créditos finais. Porém, o filme capitaneado por Fincher é completo, recheado de mistérios, colapsos e intrigas. 

A continuação da trama terá de ser minuciosa. Caso contrário, o primeiro capítulo será o único representante a altura do cultuado best-seller. 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Carros, bebidas, mulheres e terror

Contagem exporta o ritmo alucinante da Drunk Demons

Por Felipe Pedrosa
Drunk Demons. Carlos, Uander e Fernanda
Para falar de carros, bebidas, filmes de terror e mulheres, é preciso um som pesado, mas de qualidade e sincero. Assim, o Drunk Demons - formado por Fernanda (baixo), Carlos (bateria) e Uander (vocal e guitarra) arquitetaram as suas músicas no psychobilly. "O ritmo, geralmente, é associado ao surgimento do punk no fim dos anos 1970", explica Fernanda, anunciando, ainda, que o grupo, nascido em Contagem, vai tocar no "Psycho Carnival", em Curitiba. Detalhes no site:www.myspace.com/drunkdemons.


*Matéria publicada no jornal Super Notícia, do dia 10 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Incógnita

"Nada dura nesse mundo, nem mesmo os nossos problemas"

"A Erva do Rato" foi exibido no festival de cinema de Veneza em 2008

Felipe Pedrosa
"A Erva do Rato" (2008) não é para todos os telespectadores. É óbvio que o longa-metragem do diretor Júlio Bressane passa longe da indústria do entretenimento, mas ele não se limita em ser apenas um filme autoral. 

Baseado nos contos "Um Esqueleto" e "A Causa Secreta" do escritor Machado de Assis (1839-1908), "A Erva do Rato" é erigido na relação entre duas pessoas (Alessandra Negrini e Selton Mello)  protagonistas sem nomes. E, como declarado por Alessandra Negrini à Folha de São Paulo, esse casal mal se olha, se toca ou se fala. O silêncio, aliás, é um dos recursos enigmáticos do longa.

Júlio Bressane traz à luz o avesso, o outro lado. Essa proposta, inclusive, revela o potencial dramático da protagonista. Alessandra Negrini, apesar de já ter trabalhado com Bressane em 2007, é sempre lembrada por suas personagens na teledramaturgia, formato presente em sua vida desde 1990. Ela, entretanto, é capaz de se dissolver e, ao mesmo tempo, se embrutecer diante das câmeras. 

Selton Mello dispensa apresentações. Ele, afinal, cresceu nas produções Globais, mas já havia provado que não está limitado a roteiros pré-concebidos e a dramas que levam ao mesmo desfecho.

Em "A Erva do Rato", é preciso ressaltar ainda a fotografia proporcionada por Walter Carvalho, que se transpõe para além da estética e complementa a própria trama como, por exemplo, na composição e tons expressos nas fotos que o protagonista faz da própria companheira.

A incógnita de "A Erva do Rato" nunca se dissipa. Ela apenas nos faz retornar ao seu primeiro diálogo: "nada dura nesse mundo, nem mesmo os nossos problemas. Você me disse o seu nome, eu lhe disse o meu é o que basta. Vamos viver juntos, logo saberemos tudo sobre nós dois, sobre nós mesmos".