"Isso" (2001), Titãs.
Por FELIPE PEDROSA
Evito
falar de mim, dos meus desejos, das minhas saudades. Tenho medo de ser clichê,
piegas e, quem sabe, brega. Mas, não sei porque, o teu último beijo ainda me
consome. Fiz poemas, sonetos, textos caprichosos pensando em você e, tenho certeza,
nenhum foi percorrido por seus olhos, ora negros, ora castanhos. E, agora, eu
me pergunto: e daí? Você, provavelmente, pouco se importa com esse bolorento passado e
também com esse presente nostálgico.
O fato é: o seu beijo ainda me faz salivar. Uma, duas, três, dez, quatorze... perdi a conta de
quantas bocas toquei depois da sua. Nenhuma delas, entretanto, dançou no
meu compasso. O teu gosto é indecifrável, sensível e arrebatador. Os homens,
que foram poucos depois de mim – tenho certeza –, sofreram ao deixar você ir. Assim
como doeu quando você pegou a estrada, deixando para traz um espólio de vagas lembranças.
Na última vez, nós comemos,
bebemos e você pediu para eu não tentar. A tua respiração, porém, já estava no
meu ritmo, a sua pele estava em contato com a minha e os seus lábios, que lábios, encostaram-se
aos meus. Droga, não consigo fugir do óbvio.
Da mesma maneira que não soube evitá-lo quando você ainda era minha. Flores, bombons e declarações aos montes ou a falta disso tudo?!
Você
me chamou para ir. Eu, ainda estagiário, fiz questão de pagar a conta. Não
pensei em levá-la para um motel, lugar ermo ou rua deserta. Embora estivesse
morrendo de vontade de te ver nua, sentir sua boca deslizando por meu corpo e,
mais uma vez, selar o que ainda sinto por você.
Acelerei
pela BR 381 rumo a sua nova e já antiga casa. Esse foi o seu pedido. Parei no meio do caminho. Precisava
de mais um beijo. Esse foi rápido e sem emoção. Ele, logo, foi
interrompido por um: “Tenho que ir embora. Não conte para ninguém o que aconteceu, ok?”.
Adeus.